sábado, agosto 01, 2009

Nietzcheneanas

"A transformação do comportamento afetivo e das crenças da mulher irão levá-la agir com mais eficácia. Não estou me referindo aos problemas práticos, econômicos e sociológicos que, para mim, podem ser resolvidos na sua maioria com lógica e inteligência. Quero apenas acentuar a importância dessa confrontação com nós mesmas, que é a fonte da nossa força.”

Nietzche escreve em suas críticas fortes ataques não solidários ao ser fêmeo (que não precisa da solidariedade, por não ser de fato o tal 'sexo frágil'). O que ele exalta nos seus textos é uma rejeição a imposição do 'corpo feminino', ou o que fazem dele, a moral e os valores impostos a mulher. Isso já no seu tempo em que a 'coisa' não tinha tomado tamanha proporção, por isso dizemos que ele é um escritor a frente de seu tempo.
O corpo da mulher é usado como objeto: dos silicones até chegar nos biquinis e bundas na tv, assunto esse já batido e impossível de passar em branco, mas o pior é que tem aquelas que aceitam e até as que gostam da mulher-corpo, da prostituta: a qual é útil apenas aos prazeres, manipulada, enlatada, modelada, não pensa, não fala, não produz! só obedece e repete.
A mulher é de uma beleza ímpar, é feitiço e poder de sedução: o qual é banalizado para uma eficácia na manipulação, fato! O sexo foi vendido e transformado em padrão, tabu. As qualidades femininas foram então desperdiçadas, por muitas não entenderem que são únicas e pessoais, não um padrão, uma ditadura do corpo, mente e sexualidade. Há uma certa magia, alma feminina, e não robôs meticulosamente iguais vendidos pelos cirurgiões plásticos. Corpo julgado, taxado e transformado em promíscuo, vulgar, feio pela igreja, pela sociedade, pelo capitalismo, pela mídia, mutuamente. Fomos e somos manipuladas por essa corja, segundo eles o símbolo do pecado que desvirtuou a humanidade inteira. Daí vem a repressão, o preconceito, a manipulação e muitas aceitam num comodismo de arrepiar os cabelos. Objeto-mente-corpo-oco.
Nietzche aponta na mulher o questionamento do 'ser mulher', questionando a falsa-moral, deveres da mulher submissa, liberdade, e principalmente a moral imposta. A moral na verdade deve ser criada por cada um(a) baseada na própria verdade, não copiada de 'sei lá quem' por ser um tabú. O filósofo luta por um gênero híbrido, pela igualdade de direitos, pela luta entre as diferenças existentes, pelo direito de tê-las, pela revolução dos valores impostos e o nascimento de uma verdade própria. E ainda aponta nessa instituição do feminino o que deve ser repugnado, tudo aquilo que é manipulado, para que haja enfim uma significativa mudança de valores. Para isso traça uma crítica radical ao ser "humano" e como filósofo que é, questiona! Questiona não só a idéia do homem 'masculino' ou 'feminino' e seus valores duvidosos mas uma possível superação do gênero.
A mulher se torna um personagem marcante para o questionamento da sociedade em geral, já que talvez sua situação a muito tempo seja absurda e repugnante, aquela mulher 'frágil e inferior', é inaceitável e isso torna difícil uma avaliação passiva, compaixão ou bondade com 'o' assunto, é digno de se irritar. Essa pena e caridade perfumada com as mulheres não é justa - com as próprias - ou eficaz. 'É claro que sofre, é o preço da visão, é claro que sente medo, viver significa correr perigo. Torne-se rijo. Você não é uma vaca e eu não sou um apóstulo da ruminação.' - diz ele. Em outras palavras: a verdade dói! Seu dever como filosofo, ser-questionante, é causar náusea, é fragmentar e examinar a reação química que provocará para mudar valores, desconectar a repugnante moral encrostada no ser. Temos a obrigação de ser nós mesmas, o que se é, usar nossas peculiaridades, dons e originalidade. Não fazer da sedução e do corpo objetos, hábito à venda. Defeitos e virtudes são inerentes ao ser, as diferenças são maiores que as imposições, por isso gritam e queimam como fogo.
Nietzche diz que a mulher só vai aprender a odiar depois que parar de encantar e seduzir, quando muitas não mais estiverem satisfeitas dessa comodidade, usando-se como produto de troca. Vemos que Nietzche procura uma saída política para a mulher frágil, doméstica, submissa ao seu 'encanto'. É de uma revolução corporal que precisamos, na qual muitas mulheres não estão dispostas, porque são pobres e carentes na fundamentação do 'único', do 'singular', para superar a domesticação e fragilidade ditada à elas. O ódio, a contestação, o questionamento dessas atitudes, fazem as pessoas pensarem no que são e no que querem ser, formando o individuo assim como ele é. 'Torne-te quem tu és!' diz ele. O ódio poderia acabar com toda a estética plástica, toda a pobreza de espirito, transformando-se num não para moral e manipulação e um sim ao SER: bom ou mal/feio ou bonito, nesse vasto mundo de tantas peculiaridades, ultrapassando gênero, raça, posses, corpo e outras superficialidades... “De nada adianta se esse contato com o outro, com a mulher, por exemplo, se ela é colocada num pedestal de pureza e beleza ou tratada como insignificante.” O gênero não é um limite a ser superado, é uma luta na busca do conjunto para achar sua identidade (mulher ou não).
As mulheres precisam de atenção politica e Nietzche não só deixa escritos significativos para uma mudança política em relação as mulheres como também para a luta por um feminismo microscópico, ressaltando pequenos aspectos importantes para a valorização da mulher: nas relações de poder e troca, e na não domesticação da mulher. Esse ódio em suas obras muitas vezes é acusado de misoginia pelos mais desavisados, superficiais ou por aqueles que infelizmente não entenderam 'bulufas'. No discurso onde Nietzche proclama uma raiva a sociedade, na maioria das vezes feminista, surge então uma leitura vitimizada onde muitas mulheres se sentem subjugadas e inferiorizadas, mas a realidade é clara, por isso há a necessidade de confronto, calar-se seria fácil e covarde.
A mulher não precisa de pena. Deve optar por mudanças e não pelo comodismo. Deve usar a violência de Nietzche para combater esses valores instaurados pelas estratégias de poder, onde existe uma 'norma' para o ser mulher. Deve apontar as mistificações e imposições políticas e sociais. As mulheres devem apontar e gritar para si mesmas quando esse conjunto de aspectos é verificado nos próprios gestos. A mulher não é vitima, não somos máquinas, não somos rótulos, não somos frágeis, somos fortes, só que algumas não sabem disso. Avante! Temos que lutar! A originalidade e a força de cada uma está acima do gênero.

"Todos sangramos no altar secreto dos sacrifícios, todos ardemos e nos assamos em honra dos velhos ídolos.(...) Quebrai, quebrai, meus irmãos, essas velhas tábuas dos devotos! Aniquilai as palavras dos caluniadores do mundo!" Nietzche


Yasmin MM

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