sexta-feira, agosto 28, 2009

Sweet Dreams



Lá muito além de qualquer palavra, frase ou letra. Está além do que os lábios reproduzem, está além do sentido, do tempo, do som. Isso que nos é comum, o que nos resta está na pele, no vestígio do gosto que ainda adoça a boca, quase imperceptível, desconhecido.
E daquele choque inevitável é que surgem os astros luminosos.
Nisso tudo me falta ar, não cabe no espaço de um, não rima.
Minhas metáforas, poesias, ontologias, é onde trilho para dizer o 'impronunciável', aquilo que se sente e de tanto! me fogem palavras, ao vento, dançando, perdidas nos segundos do tempo. Persistirei em sentir e compatilhar: do mesmo calor de gosto, olhar, tato que implora, toque. Mesmo que as conquistas sejam vãs, de tudo isso esse tanto já me basta. O brilho no olhar me absolve de qualquer culpa, de qualquer julgamento. De tudo isso sua boca de encontro a minha já é a conquista, é nesse encaixe que me completo.
Os meus encontros e desencontros, possíveis ou não, refletem a busca pelo novo, por aquilo que arda, que faça sentir, sem culpa ou pudores.
Decreto que em nada disso existe a maldade, não pode, há qualquer coisa doce, pura...
De tudo que foi e de tudo que ficou ainda fica muito daquilo que não foi dito, mas foi sentido.

quinta-feira, agosto 20, 2009

[?]

...e hoje eu sou essa enorme interrogação, encarnada na minha face. Isso que se sabe sem saber, que se segue a passos tontos nessa reta sinuosa que se chama 'caminho'. Aquele, o meu...
Essa maldita interrogação, essa vontade que não sei de onde, porque ou de que. É abrir a geladeira e fitar aquelas cores como quem descobre algum mistério ou estática admirar a pirueta suave de uma bailarina. Muitas vezes preciso de algo para despertar dessa inércia, me preenchendo de uma forma ou de outra. Sonhar alto é acordar de mãos vazias e sentir o vento que precede o tombo. Muitas vezes dói, outras nem tanto, contudo sempre vem a mudança nas noites de lua crescente, que me trazem o novo, é quando sei que nunca mais retornarei ao tamanho original. Portanto decidi sonhar por mais que doa saber, afinal é melhor do que esse 'nada repleto de nada', de uma maneira ou de outra as conquistas serão vãs, nulas, ouro para tolos. Porque ser é antes de tudo, tudo isso, encrostado, emaranhado no âmago.
Quero dizer justamente aquilo que sufoca, expressar o inexpressável, CRIAR, explicar a desexplicação daqueles poetas compostos dessa química orgânica, de átomos cardíacos, fonte inspiração, fonte de crescimento. No fundo é qualquer coisa que toque, ao alcance das mãos, dos olhos, da boca, para poder sentir, degustar, lentamente. Então se desabrocha, se encontra...Nisso tudo me inspiro em personalidades marcantes como a minha, de lágrimas e tortuosas palavras carregadas de verdade. Desde que toque! E para cada toque é um tato. Então cada um que pinte a pinceladas carregadas de voracidade e vontades a sua obra, o seu próprio e único eu. Nisso tudo sou algo que construi no meu caminho percorrido, sou esse tanto emaranhado, cheio de conquistas, de perdas....
Pensar é para poucos! Esse brilho nos olhos é testemunha da minha arte, de admirar-me com esse Tudo. Me perco no meio desse 'tudo', escrever talvez seja minha maneira de organizar essa desorganização pronfunda e enfim entender um pouco daquilo que não faz sentido algum, que eu quero é que não faça! Pra que sentido? se aí não se sente nada...Essa minha dialética de divagações é mais palpável para mim. O que faz algum sentido por frações de segundos logo se confunde novamente. Incógnitas lunares, dessas que me beliscam, nas noites de vento fresco, de calor. O bom é tê-las próxima da caixa craniana.
Aquele meu futuro promissor? Sobre falar sério...sobre uma suposta lucidez? Que é imposta! Sentada atrás de uma mesa fria, a enlouquecer e jogar aqueles papéis de 'sei lá quem' para o alto a fim de desorganizar essa maldita normalidade imbecil. Espero que esse futuro tenha uma pitada qualquer de falta de sentido, de devaneio, de loucura que é tudo aquilo que me compõe, lá no fundo, aquilo que arde, que me faz viva. Estou sempre a um passo desse 'enlouquecer' e quando menos espero já me joguei por inteiro. Sempre prefiri a loucura mesmo, que me cura de uma forma ou de outra. É, eu me perco nessas minhas divagações...A realidade é como um tapa na cara, prum lugar qualquer, de incógnitas crescentes. E que diabos é a realidade?
Minha essência guardo no bolso, isso ninguém pode me roubar...é só minha. Acho que tudo isso, mais o que sou é fruto das minhas escolhas, não quero fazer parte do comum, porque eu prefiro o gosto doce dos sentidos. Eu, arte final, de esboços meus, comportados de tantos eus. Me encontro sem ter uma palavra mesmo com tanto a dizer nesse eco ressonante. Me falta, logo continuo perdida.
Ao redor a vida continua naquele maldito corre-corre, de me deixar nessa paranóia delirante do tanto que deixei pendente, inclusive porque o tempo não me poupa, é carrasco sádico a rir de minhas agonias. Preciso daquele mais, de tato, gosto e cheiro bom, de sentar ao Sol e ver a cor das flores no jardim. Preciso urgente pontuar esse corpo no espaço do tempo numa bela e doce música de derreter a massa cerebral ao sentir aqueles ventos noturnos. Quero logo é voltar a ser criança, de imaginação e corpo solto, sem tempo, espaço ou rótulos. Apenas aquela gargalhada gostosa que contagia, apenas SER.

quarta-feira, agosto 12, 2009

à arte de desexplicar

ou explicar demais, logo desexplicando,
velha dialética minha essa.

"Escrever nem uma coisa
Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes."

sexta-feira, agosto 07, 2009

Something about

A mente
pulsa
em lembranças
quebra-cabeça,
quebrando
cabeças
de mentes
inquietas
sem cabeça
ou pé
e a mente
ainda pulsa..

terça-feira, agosto 04, 2009

'[...]

Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa
com a janela fechada,Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu,
que neste momento
já não estou sentindo nada.
Nada! Não sei...Um nada que dói...' (a.C.)

sábado, agosto 01, 2009

Epitáfio de nossas quimeras


Aqui jaz nosso amor que de imenso morreu, feto tardio de metástases de dores efêmeras, conquistas de nada e incertezas nulas.


Depois de chorar pelos adeuses silênciosos, subentendidos no futuro próximo onde não há palavras para comunicar. Nos perderemos na distância. É difícil - você dirá. Eu te abraçarei com a firmeza de novos caminhos que se abrirão, na certeza de novas escolhas, na mudança de objetivos. Então seguiremos em frente sufocados desse sentimento vago e inexplicável, nostálgico, porém já anestesiados por tantas lágrimas. Enfim aprenderei depois de líquida, obscessiva em lamentos, que meu caminho é único e solitário porque só cabe o eu, que ocupa todo esse espaço no tempo. Nesse meu enredo, o caminho presente, me foi doado de graça e está a todo momento prestes a se tranformar apenas em lembranças.

Nietzcheneanas

"A transformação do comportamento afetivo e das crenças da mulher irão levá-la agir com mais eficácia. Não estou me referindo aos problemas práticos, econômicos e sociológicos que, para mim, podem ser resolvidos na sua maioria com lógica e inteligência. Quero apenas acentuar a importância dessa confrontação com nós mesmas, que é a fonte da nossa força.”

Nietzche escreve em suas críticas fortes ataques não solidários ao ser fêmeo (que não precisa da solidariedade, por não ser de fato o tal 'sexo frágil'). O que ele exalta nos seus textos é uma rejeição a imposição do 'corpo feminino', ou o que fazem dele, a moral e os valores impostos a mulher. Isso já no seu tempo em que a 'coisa' não tinha tomado tamanha proporção, por isso dizemos que ele é um escritor a frente de seu tempo.
O corpo da mulher é usado como objeto: dos silicones até chegar nos biquinis e bundas na tv, assunto esse já batido e impossível de passar em branco, mas o pior é que tem aquelas que aceitam e até as que gostam da mulher-corpo, da prostituta: a qual é útil apenas aos prazeres, manipulada, enlatada, modelada, não pensa, não fala, não produz! só obedece e repete.
A mulher é de uma beleza ímpar, é feitiço e poder de sedução: o qual é banalizado para uma eficácia na manipulação, fato! O sexo foi vendido e transformado em padrão, tabu. As qualidades femininas foram então desperdiçadas, por muitas não entenderem que são únicas e pessoais, não um padrão, uma ditadura do corpo, mente e sexualidade. Há uma certa magia, alma feminina, e não robôs meticulosamente iguais vendidos pelos cirurgiões plásticos. Corpo julgado, taxado e transformado em promíscuo, vulgar, feio pela igreja, pela sociedade, pelo capitalismo, pela mídia, mutuamente. Fomos e somos manipuladas por essa corja, segundo eles o símbolo do pecado que desvirtuou a humanidade inteira. Daí vem a repressão, o preconceito, a manipulação e muitas aceitam num comodismo de arrepiar os cabelos. Objeto-mente-corpo-oco.
Nietzche aponta na mulher o questionamento do 'ser mulher', questionando a falsa-moral, deveres da mulher submissa, liberdade, e principalmente a moral imposta. A moral na verdade deve ser criada por cada um(a) baseada na própria verdade, não copiada de 'sei lá quem' por ser um tabú. O filósofo luta por um gênero híbrido, pela igualdade de direitos, pela luta entre as diferenças existentes, pelo direito de tê-las, pela revolução dos valores impostos e o nascimento de uma verdade própria. E ainda aponta nessa instituição do feminino o que deve ser repugnado, tudo aquilo que é manipulado, para que haja enfim uma significativa mudança de valores. Para isso traça uma crítica radical ao ser "humano" e como filósofo que é, questiona! Questiona não só a idéia do homem 'masculino' ou 'feminino' e seus valores duvidosos mas uma possível superação do gênero.
A mulher se torna um personagem marcante para o questionamento da sociedade em geral, já que talvez sua situação a muito tempo seja absurda e repugnante, aquela mulher 'frágil e inferior', é inaceitável e isso torna difícil uma avaliação passiva, compaixão ou bondade com 'o' assunto, é digno de se irritar. Essa pena e caridade perfumada com as mulheres não é justa - com as próprias - ou eficaz. 'É claro que sofre, é o preço da visão, é claro que sente medo, viver significa correr perigo. Torne-se rijo. Você não é uma vaca e eu não sou um apóstulo da ruminação.' - diz ele. Em outras palavras: a verdade dói! Seu dever como filosofo, ser-questionante, é causar náusea, é fragmentar e examinar a reação química que provocará para mudar valores, desconectar a repugnante moral encrostada no ser. Temos a obrigação de ser nós mesmas, o que se é, usar nossas peculiaridades, dons e originalidade. Não fazer da sedução e do corpo objetos, hábito à venda. Defeitos e virtudes são inerentes ao ser, as diferenças são maiores que as imposições, por isso gritam e queimam como fogo.
Nietzche diz que a mulher só vai aprender a odiar depois que parar de encantar e seduzir, quando muitas não mais estiverem satisfeitas dessa comodidade, usando-se como produto de troca. Vemos que Nietzche procura uma saída política para a mulher frágil, doméstica, submissa ao seu 'encanto'. É de uma revolução corporal que precisamos, na qual muitas mulheres não estão dispostas, porque são pobres e carentes na fundamentação do 'único', do 'singular', para superar a domesticação e fragilidade ditada à elas. O ódio, a contestação, o questionamento dessas atitudes, fazem as pessoas pensarem no que são e no que querem ser, formando o individuo assim como ele é. 'Torne-te quem tu és!' diz ele. O ódio poderia acabar com toda a estética plástica, toda a pobreza de espirito, transformando-se num não para moral e manipulação e um sim ao SER: bom ou mal/feio ou bonito, nesse vasto mundo de tantas peculiaridades, ultrapassando gênero, raça, posses, corpo e outras superficialidades... “De nada adianta se esse contato com o outro, com a mulher, por exemplo, se ela é colocada num pedestal de pureza e beleza ou tratada como insignificante.” O gênero não é um limite a ser superado, é uma luta na busca do conjunto para achar sua identidade (mulher ou não).
As mulheres precisam de atenção politica e Nietzche não só deixa escritos significativos para uma mudança política em relação as mulheres como também para a luta por um feminismo microscópico, ressaltando pequenos aspectos importantes para a valorização da mulher: nas relações de poder e troca, e na não domesticação da mulher. Esse ódio em suas obras muitas vezes é acusado de misoginia pelos mais desavisados, superficiais ou por aqueles que infelizmente não entenderam 'bulufas'. No discurso onde Nietzche proclama uma raiva a sociedade, na maioria das vezes feminista, surge então uma leitura vitimizada onde muitas mulheres se sentem subjugadas e inferiorizadas, mas a realidade é clara, por isso há a necessidade de confronto, calar-se seria fácil e covarde.
A mulher não precisa de pena. Deve optar por mudanças e não pelo comodismo. Deve usar a violência de Nietzche para combater esses valores instaurados pelas estratégias de poder, onde existe uma 'norma' para o ser mulher. Deve apontar as mistificações e imposições políticas e sociais. As mulheres devem apontar e gritar para si mesmas quando esse conjunto de aspectos é verificado nos próprios gestos. A mulher não é vitima, não somos máquinas, não somos rótulos, não somos frágeis, somos fortes, só que algumas não sabem disso. Avante! Temos que lutar! A originalidade e a força de cada uma está acima do gênero.

"Todos sangramos no altar secreto dos sacrifícios, todos ardemos e nos assamos em honra dos velhos ídolos.(...) Quebrai, quebrai, meus irmãos, essas velhas tábuas dos devotos! Aniquilai as palavras dos caluniadores do mundo!" Nietzche


Yasmin MM