quinta-feira, abril 29, 2010

Decifra-me ou devoro-te



















 Lascivos,
de um amor incendiário,
ardendo em brasa.
Obscenos,
de noites embreagadas, voluptuosas...
Você, eu, a sincronia perfeita,
repertório meu de melodia ritmada.
Exagero em falhas, feridas que nunca fecham.
Em meus versos tu sempre és....
encontro, palavras silênciosas, espasmos, suor,
boca, em mim.
Decifra-me, desvenda, encubra, barbariza.
Me sucumbo aos dominios teus.
Orgasmo infalível,
olhar, cheiro, único,
gestos, expressivos, firmes,
fortes.
Meu amor, sacie.
Mate meu desejo,
de amor, de tesão.

quinta-feira, abril 22, 2010

O gosto do vivo

Ao levantar diante de mim o céu azul com aqueles pequenos pedaços de algodão, o sol reluzindo e compondo as cores desse lado de cá. Seria um dia lindo, se não fosse...
Espremo os olhos em choque e ponho os rotineiros óculos escuros. As milhares de sinapses concluem o tom áspero do novo dia, cólera em mim.
Levei a boca chocolate com o intuito de amenizar tal sensação, as respostas foram nulas. O vício e a vontade de fumar me rodiavam, mas parei para minha infelicidade. Depois de doses quentes concluo que o que me resta é proclamar merda ao mundo para amenizar esse silêncio íntimo. É uma necessidade de palavras, versos ou o que for para instigar esse corpo cansado, mas não há ninguém e  recusei todos os poetas e livros da minha estante. Quando saio de casa, sigo meu solitário caminho, os olhares esporram o prazer nunca atingido, olhares que me perseguem.
Manhãs lascivas, o que faria eu sem elas? Nessa solidão repleta de multidões, conversas, olhares, sentimentos...
A ácidez da manhã paira...escrever palavras desconexas para em nenhum lugar chegar...Sempre essas conquistas de nada ecoando na minha massa encefalica, por isso coloco-as aqui para que talvez  nesse mundo incógnito de verdades vãs tenham alguma utilidade.
Na língua de loucos médicos de pilulas mágicas convertidas em receitas para salvar dias infelizes, e alcançar a sonhada normalidade, meras maquiagens impostas, seria eu bipolar (??) Se não me agrada....porque teria de fingir que? Prefiro ter o gosto de chorar.
ME CALAR!? ora já se viu! NUNCA! E essa cura que me ronda, para livrar-me dos dias infelizes, das imprevisibilidades....
Nessa manhã chamada noite antecedida pelo crepúsculo e suas cores aqui estou, querendo fugir para noites remotas de exageros, pensamentos, luar, vertigens, sonhos...para acordar novamente com o céu azul-cinza e esperar anciosamente o pôr-do-sol, o dia se desfazendo em doses de melodia doce e ligeira ou em delirios sem cura.
Felizes são aqueles que entram em colisão com o próprio corpo, que dão voz ao corpo, e vão indo, esvaindo....

terça-feira, abril 13, 2010

Dos domínios teus

Diria-me a fitar os olhos:
-Não tens disfaces comportados neste corpo.
Seria eu uma contradição do óbvio? Sem possibilidade de escolha...Seria eu o prazer inevitável da arte de pensar , transcrito em meus rascunhos.
Responderia, firme:
-E tu não tens corpo para comportar tantos e infelizes adornos, retalhados, tentando enfeitar uma coisa ou outra, objetos de meu desejo. Desses conceitos encrostados e vãos, sem imaginação alguma, a convicção é o que me proporciona tamanha raiva.
Olharia-me acreditando na minha verdade:
-Previsível e de uma sinceridade medíocre de tamanha arrogância desaforada...será que não podes mais?
Sim, posso. E no meu fluxo de idéias embaraçoso, tocado pelas sensações: eram sim arrogantes e desaforadas! Ora, se sempre foi assim...E o que sobrou foi o eu e o silêncio do pensamento, imperando sobre meus sentidos, meu corpo. Uma vertigem me toma nesse abismo infeliz que me envolve por tamanha persuasão de natureza sensata e racional.
Num tom acima tomado pela adrenalina que não deixaria transparecer, disfarçada por um típico e sarcástico sorriso no rosto, diria:
-Nesses abismos meus, cheios de atalhos onde nada faz sentido para você é por onde abandono o previsível, certezas e verdades e abraço o obscuro, latente, objeto de meus desejos...
Retrucou ironizando:
-És pós-moderninha de fato.
Nesse momento a ira toma conta do corpo, ecoando intimamente...os olhos brilham em adrenalina, mordo o lábio e encaro transtornada o ser de irritantes verbetes e soberbas interpretações, adotando malditos adornos impositivos num intenso sorriso malicioso,
-Impositivas ou não, o que pesa são minhas verdades, meus desejos...que pesará sobre tua boca, fazendo-te esquecer rotineiras verdades e previsibilidades, re-conhecendo, transcrevendo-te em meu corpo como um animal. Desejo e raiva misturando imperativos. Calo-te num sussurro íntimo,  pois palavras nossas de nada adiantam, perdem-se em caminhos sinuosos, apenas denunciam os gemidos de volúpias nossas, traduzidos naquilo que desejamos...
Amo teus infelizes adornos, dessa brutalidade intensa,
declaro ser...dominada por ti e por teus toques vigorosos...