terça-feira, dezembro 15, 2009

Carta aberta ao inimigo conhecido

“ Pois viver continuamente à caça de ganhos obriga a despender o espírito até a exaustão,sempre fingindo, fraudando, antecipando-se aos outros: a autentica virtude ,agora, é fazer algo em menos tempo do que os demais” Nietzche

 


Propago aqui minha luta contra a permanência...de tal conforto inerte que causa maldita anestesia, rotineiras agonias e profundo tédio, traduzindo o niilismo puro e simples. Nego tudo aquilo que se perpetue na constância, o mesmo corpo, o mesmo gosto, o mesmo cheiro, o mesmo: Ditadura dos hábitos, pensamentos, prazeres...sendo que isso deveria ser finalidade última.
O tédio proporciona cortantes permanências maquínicas de manipulações hierárquicas ou terrorismo poético prestes a cometer um atentado já planejado em pensamentos...tentando anular essa moldura que reprime, envenena e dizima: criatividade, sensibilidade, o  imprevisível, o novo...
Não irei me reduzir a rotina, ao padrão, ao tempo: o espaço de um silêncio rodando em ciclos infinitos, já conhecidos, possivelmente reais, de invisíveis tradições que não deixam de ser sentidas, encarcerando por medo, repetições pré-estabelecidas sem brecha para o inusitado, aquilo que brota do impossível.
Precisamos encarnar realidades, diferenciando o eu a todo instante, não representá-las em inférteis repetições sistemáticas, essas esclarecedoras. É preciso inovar mesmo baseando-se em velhas verdades, porém superando as representações baratas de valores universais repetitivos. Invente o que é real, sem se preocupar com a padronização disso como uma patologia: autismo, surto, arte. Não acredite naqueles que pretendem salvar as agonias e aflições artísticas, que pretendem a despersonificação em massa, robótica, atrofiamento de vias cerebrais e personalidade. Meras invenções capitalistas que sufocam e estimulam a esquizofrenia, distorcendo e manipulando os sentidos.
Os adultos soberbos sedentos por auto-superação e incapacidade de auto-denominação  sacrificam-se a todo instante para tentar algo que chegue perto da afetividade, o que já seria uma contradição, desperdiçando o desejo por uma vida ordinária, cotidiana, nesse emaranhado onde o desejo se cala nas entrelinhas das trivialidades. Não existem sacrifícios onde se perpetue o desejo, as vertigens, as escolhas... Sacrificio seria não ser.
Que os desejos sejam eternizados em arte e a as disciplinas impositivas que pretendem nos tornar algo que não queremos ser sejam anuladas, caraminholas eruditas propagadas por homens que pensam que com isso se tornarão mais sábios que os demais, com mais méritos...um best-seller narigudo, arrogante num quadro pendurado para exposição. Esquecendo-se porém dos caminhos sinuosos do pensamento, da serotonina em sua maestria abrindo espaço para sentir e a capacidade que tem um corpo e suas criações. Continuarão a ser competidores encarcerados por virtudes inventadas, indigestas, nada mais que reles verdades. Saiba, as entrelinhas oferecem mais possibilidades que as ponposas frases e seus pontos finais.
Por isso: o grito, a gargalhada e a dança voraz e sem pudor, melodia que escolhi, arrancando do peito o peso do insuportável, combatendo tudo aquilo que pode desperdiçar o momento, com a certeza do impossível. A serotonina é livre, estimulada conforme o desejo, me transporta para um universo paralelo longe das luzes, cores e cheiros do capitalismo. Sou um autismo íntimo extremamente voluntário, sinuosa linha veloz de pensamentos no espaço do tempo, são tantas fugas mirabolantes comportadas em minha caixa craniana, esse manicomio. Meus devaneios nada mais são que a fuga da normalidade, assim posso ser: arte, infantil, louca, numa vertigem qualquer...esvaindo-me como o vento nas noites de verão, entre estrelas, no espaço, sou um verso escarrado, uma bailarina dançando pas de deux, sou o ato, mesmo tendo que...mesmo com tantas imposições, perecendo num sistema bruto que suga o eu, o ócio criativo, o tempo, que usei para me aperfeiçoar e escorreu imperceptível...

Talvez escrever com vigor esteja além de ser bom, está em vivenciar tamanho deleite, pulsar palavras em fluxo, degustar esse esdrúxulo alimento.

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