terça-feira, abril 13, 2010

Dos domínios teus

Diria-me a fitar os olhos:
-Não tens disfaces comportados neste corpo.
Seria eu uma contradição do óbvio? Sem possibilidade de escolha...Seria eu o prazer inevitável da arte de pensar , transcrito em meus rascunhos.
Responderia, firme:
-E tu não tens corpo para comportar tantos e infelizes adornos, retalhados, tentando enfeitar uma coisa ou outra, objetos de meu desejo. Desses conceitos encrostados e vãos, sem imaginação alguma, a convicção é o que me proporciona tamanha raiva.
Olharia-me acreditando na minha verdade:
-Previsível e de uma sinceridade medíocre de tamanha arrogância desaforada...será que não podes mais?
Sim, posso. E no meu fluxo de idéias embaraçoso, tocado pelas sensações: eram sim arrogantes e desaforadas! Ora, se sempre foi assim...E o que sobrou foi o eu e o silêncio do pensamento, imperando sobre meus sentidos, meu corpo. Uma vertigem me toma nesse abismo infeliz que me envolve por tamanha persuasão de natureza sensata e racional.
Num tom acima tomado pela adrenalina que não deixaria transparecer, disfarçada por um típico e sarcástico sorriso no rosto, diria:
-Nesses abismos meus, cheios de atalhos onde nada faz sentido para você é por onde abandono o previsível, certezas e verdades e abraço o obscuro, latente, objeto de meus desejos...
Retrucou ironizando:
-És pós-moderninha de fato.
Nesse momento a ira toma conta do corpo, ecoando intimamente...os olhos brilham em adrenalina, mordo o lábio e encaro transtornada o ser de irritantes verbetes e soberbas interpretações, adotando malditos adornos impositivos num intenso sorriso malicioso,
-Impositivas ou não, o que pesa são minhas verdades, meus desejos...que pesará sobre tua boca, fazendo-te esquecer rotineiras verdades e previsibilidades, re-conhecendo, transcrevendo-te em meu corpo como um animal. Desejo e raiva misturando imperativos. Calo-te num sussurro íntimo,  pois palavras nossas de nada adiantam, perdem-se em caminhos sinuosos, apenas denunciam os gemidos de volúpias nossas, traduzidos naquilo que desejamos...
Amo teus infelizes adornos, dessa brutalidade intensa,
declaro ser...dominada por ti e por teus toques vigorosos...

Nenhum comentário: