segunda-feira, janeiro 16, 2012

“I wonder if I’ve been changed in the night? Let me think. Was I the same when I got up this morning? I almost think I can remember feeling a little different. But if I’m not the same, the next question is ‘Who in the world am I?’ Ah, that’s the great puzzle!” Lewis Carroll



sábado, dezembro 10, 2011

Rugas de preocupação.


Hit the road, Jack and come back no more, no more, no more


Good news: i'm back!

sexta-feira, setembro 16, 2011

e derepente as memórias começam a doer...


Hold onto the memory, it's all you've got
I know you'll be there to soak up blood lost

segunda-feira, junho 06, 2011

é no escuro da noite,
quando as estrelas ficam incandescentes
que a dor se torna latente.

quinta-feira, maio 19, 2011

Liebe Großmutter,



É tão difícil começar. Difícil é dizer todas as coisas que ficaram por dizer e não foram ditas, mas nem por isso não foram sentidas.
Lembrar-te é o mesmo que sentir o aroma doce das hortênsias espalhadas pelo jardim, é hortinha repleta de legumes e verduras em cores, é catar morango pela manhã, jogar comidinha aos peixes, colher caqui, pitanga, jaboticaba, é comer manga se lambuzando. Lembrar-te é cantar suas cantigas, beber água da nascente, andar pela floresta e desbravar o mundo ao teu lado, GroBmutter.
Infância é mesmo aquilo tudo que sentimos falta e que um belo dia nos é tirado sem cerimônia e sem permissão. Infância, pra mim, sempre foi estar ao seu lado aprendendo todos os afazeres que uma mulher, como antigamente, deve saber. Costurar, passar, lavar, e sentir o cheirinho bom da roupa de cama arrumada, como só você sabe fazer. Infância é levar meus brinquedos para sua cama, fazer barulho, te pentear, te pentelhar e não deixar ninguém dormir. Infância é estar entre vocês enquanto o cuco canta na sala de jantar e ter a certeza que estou segura, apesar de todo o resto eu sei que vocês nunca vão me deixar só. Infância é você tentar me provar que no escuro não tem monstro. Infância é você me ensinar a ser forte, mulher, unica e insubstituível. 
Só que um belo dia a gente cresce. E tudo aquilo que era infância se transforma em lembrança, história lúdica. Um belo dia a gente fica rebelde e renega todas as raízes, as lembranças, a história. Mas definitivamente, ela não pode ser esquecida.
Admiro-te, por sua história que sei de cór e também pelo que ficou ausente em mim, pois sei que tu passastes por coisas que não compreendo, coisas indizíveis, como todos nós. Sei de suas qualidades, essas que reconheço em mim: a força ascendente, o faça você mesmo, determinação encarnada, teimosia vem no pacote, perseverança, persuasão, eloqüência e  até mesmo a língua ácida carregada de respostas prontas sem falar dos freqüentes e inusitados provérbios. Os mil e um ensinamentos que me passastes e que carrego e carregarei para toda vida.
Também sei de seus pecados muitas vezes gerado pelo excesso de obrigações das quais te libertastes com o tempo, rejeitando o verbo 'ter que', lição que me passastes por genética, creio eu. Não amo menos seus pecados, pois estão entrelaçados com suas virtudes, essas refletidas nesse grande espelho entre nós. Seus olhos verdes sempre me acompanharão às vezes frios e amargurados outras vezes quentes e acolhedores.Te reconheço a todo tempo afinal esteve ao meu lado sempre. Não te condeno, nem julgo, como espero ser absolvida pelos meus erros quando chegar onde chegastes. Como naquela tarde em meados de janeiro em que uma menina rebelde resolveu mostrar todos os adjetivos que a compunham sem se preocupar da onde derivavam, sabendo apenas que derivava desse tudo denominado gene - ou família. Já nos absolvemos mutuamente das cicatrizes deixadas, todas elas, por amor - porque nada além disso tem a capacidade da absolvição. 
Escrevo essa carta porque tenho necessidade de desabafar tudo aquilo que ficou. E por saber que não estás mais aqui, não por inteiro. Já se perdestes nesse tudo que tu és. Saiba que todos nós, no fundo, queremos viver nesse mundo de sonhos e no tempo em que escolhemos viver. Todos nós desejamos poder não sentir saudades como essa que sinto aqui, essa que sinto dos nossos tempos, da minha infância, doce, perdida.
De vez enquanto quando sinto aquele vazio procuro as velhas fotos, minhas e tuas, rançosas, que trazem a boca aquele gosto salgado do que passou e foi bom. Carregam uma história, perdida no tempo, na qual me sinto refletida e que será lembrada e propagada eternamente.
Espero que esteja vivendo no tempo que escolhestes viver e que estejas feliz, seja como for, sentirei sempre sua falta na incessante procura de ter tanta personalidade e de ser tão original como você. 


ps. É triste ver-te assim tão perdida, nesse grande espelho, em nós.






Ich liebe dich,
küsse.
Seine geliebte enkelin.

sábado, abril 02, 2011

(...)

'Lembrei-me de todas as vezes que, por ter tido a doçura de pedir, não me deram...' Porque essa frase é muito minha, então o conto, então o verso que me tomou por inteira, dias atras




Mal-estar de um anjo

"Ao sair do edifício o inesperado me tomou. O que antes fora apenas chuva na vidraça, abafado de cortina e aconchego, era na rua a tempestade e a noite. Tudo isso se fizera enquanto eu descera pelo elevador! Dilúvio carioca, sem refúgio possível, Copacabana com água entrando pelas lojas rasas e fechadas, águas grossas de lama até o meio da perna, o pé tateando para encontrar calçadas invisíveis. Até movimento de maré já tinha, onde se juntasse o bastante de água começava a atuar a secreta influência da Lua: já havia fluxo e refluxo de maré. E o pior era o temor ancestral gravado na carne: estou sem abrigo, o mundo me expulsou para o próprio mundo, e eu que só caibo numa casa nunca mais terei casa na vida, esse vestido ensopado sou eu, os cabelos escorridos nunca secarão, e sei que não serei dos escolhidos para a Arca, pois já selecionaram o melhor casal de minha espécie.
Pelas esquinas os carros de motor paralisado, e nem sombra de táxi. E a alegria feroz de vários homens finalmente impossibilitados de voltar para casa. A alegria demoníaca dos homens livres ainda mais ameaçava quem só queria casa própria. Andei sem rumo ruas e ruas, mais me arrastava que andava, parar é que era o perigo. De minha desmedida desolação eu só conseguia que ela fosse disfarçada. Alguém, radiante sob uma marquise, disse: "que coragem, hein, dona!". Não era coragem, era exatamente o medo. Porque tudo estava paralisado, eu que tenho medo do instante em que tudo pare tinha que andar.
E eis que nas águas vejo um táxi. Avançava cuidadosamente, quase centímetro por centímetro, tateando o chão com as rodas. Como é que eu me apoderaria daquele táxi? Aproximei-me. Não podia me dar ao luxo de pedir, lembrei-me de todas as vezes em que, por ter tido a doçura de pedir, não me deram. Contendo o desespero, o que sempre me dá uma aparência de força, disse ao chofer: “O senhor vai me levar para casa! É de noite! Tenho filhos pequenos que devem estar assustados com minha demora, é de noite, ouviu?!” Para minha grande surpresa, vai o homem e simplesmente diz que sim. Ainda sem entender, entrei. O carro mal se movia nas ondas lamacentas, mas movia-se — e chegaria. Eu só pensava: eu não valho tanto. Daí a pouco já estava pensando: e eu que não sabia que valia tanto. E daí a pouco era a dona-de-casa de meu táxi, já tomara posse de direito do que gratuitamente me fora dado, e energicamente tomava medidas úteis: torcia cabelos e roupas, tirava os sapatos amolecidos, enxugava o rosto que mais parecia ter chorado. A verdade, sem pudor, é que eu tinha chorado. Muito pouco, e misturando motivos, mas chorado. Depois de arrumar minha casa, encostei-me bem confortável no que era meu, e de minha Arca assisti ao mundo acabar-se.
Uma senhora aproximou-se então do carro. Devagar como este avançava, ela pôde acompanhá-lo agarrada em aflição ao trinco da porta. E literalmente me implorava para compartilhar o táxi. Era tarde demais para mim, e seu itinerário me desviaria de meu caminho. Lembrei-me, porém, de meu desespero de havia cinco minutos, e resolvi que ela não teria o mesmo. Quando eu lhe disse que sim, seu tom de imploração imediatamente cessou, substituído por uma voz extremamente prática: “É, mas espere um pouco, vou até aquela transversal buscar na casa da costureira o embrulho do vestido que deixei lá para não molhar”. “Estará ela se aproveitando de mim?”, indaguei-me na velha dúvida se devo ou não deixar que se aproveitem de mim. Terminei cedendo. Ela demorou à vontade. E voltou com um enorme embrulho pousado nas mãos estendidas, como se até seu próprio corpo pudesse macular o vestido. Instalou-se totalmente, o que me deixou tímida na minha própria casa.
E começou o meu calvário de anjo - pois a mulher, com sua voz autoritária, já tinha começado a me chamar de anjo. Não poderia ser menos comovente o seu caso: aquela era a noite de uma première e, se não fosse eu, o vestido se estragaria na chuva ou ela se atrasaria e perderia a première. Eu já tivera as minhas premières, e nem as minhas me haviam comovido. “A senhora não sabe o milagre que me aconteceu”, contou-me com firmeza. “Comecei a rezar na rua, a rezar para que Deus me mandasse um anjo que me salvasse, fiz promessa de não comer quase nada amanhã. E Deus me mandou a senhora.” Constrangida, remexi-me no banco. Eu era um anjo destinado a proteger premières? A ironia divina me encabulava. Mas a senhora, com toda a força de sua fé prática, e tratava-se de mulher forte, continuava impositivamente a reconhecer o anjo em mim, o que só pouquíssimas pessoas até hoje reconheceram, e sempre com a maior discrição. Tentei sem jeito a leveza de um sarcasmo: “Não me supervalorize, sou apenas um meio de transporte”. Enquanto que a ela nem sequer ocorreu compreender-me, eu a contragosto percebia que o argumento na verdade não me isentava: anjos também são meios de transporte. Intimidada, calei-me. Fico muito impressionada com quem grita comigo: a mulher não gritava, mas claramente mandava em mim. Impossibilitada de confrontá-la, refugiei-me num doce cinismo: aquela senhora, que tratava com tanto vigor do próprio êxtase, devia ser mulher habituada a comprar com dinheiro, e na certa terminaria por agradecer ao anjo com um cheque, também levando em conta que a chuva já devia ter lavado toda a minha distinção. Com um pouco mais de confortável cinismo, em silêncio, declarei-lhe que dinheiro seria um meio tão legítimo como qualquer outro de agradecer, já que a moeda dela era mesmo moeda. Ou então — diverti-me eu — bem poderia dar-me em agradecimento o vestido da première, pois o que ela realmente deveria agradecer não era ter um vestido seco, e sim ter sido atingida pela graça, isto é, por mim. Dentro de um cinismo cada vez melhor, pensei: “Cada um tem o anjo que merece, veja que anjo lhe coube: estou cobiçando por pura curiosidade um vestido que nem sequer vi. Agora quero ver como é que sua alma vai se arrumar com a idéia de um anjo interessado em roupas”. Parece-me que, no meu orgulho, eu não queria ter sido escolhida para servir de anjo à tolice ardente de uma senhora.
A verdade é que ser anjo estava começando a me pesar. Conheço bem esse processo do mundo: chamam-me de bondosa, e pelo menos durante algum tempo fico atrapalhada para ser ruim. Comecei também a compreender como os anjos se chateiam: eles servem a tudo. Isso nunca me ocorrera. A menos que eu fosse um anjo muito embaixo na escala dos anjos. Quem sabe, até, eu era só aprendiz de anjo. A alegria satisfeitona daquela senhora começava a me deixar sombria: ela fizera uso exorbitante de mim. Fizera de minha natureza indecisa uma profissão definida, transformara minha espontaneidade em dever, acorrentava-me, a mim, que era anjo, o que a essa altura eu já não podia mais negar, mas anjo livre. Quem sabe, porém, eu só fora mandada ao mundo para aquele instante de utilidade. Era isso, pois, o que eu valia. No táxi, eu não era um anjo decaído: era um anjo que caía em si. Caí em mim e fechei a cara. Um pouco mais e teria dito àquela de quem eu era com tanta revolta o anjo da guarda: faça o obséquio de descer já e imediatamente deste táxi! Mas fiquei calada, agüentando o peso de minhas asas cada vez mais contritas pelo seu enorme embrulho. Ela, a minha protegida, continuava a falar bem de mim, ou melhor, de minha função. Emburrei. A senhora sentiu e calou-se um pouco desarvorada. Já na altura de Viveiros de Castro a hostilidade se declarara muda entre nós.
— Escute, disse-lhe eu de repente, pois minha espontaneidade é faca de dois gumes também para os outros - o táxi vai antes me deixar em casa e depois é que segue com a senhora.
— Mas, disse ela surpreendida e em começo de indignação - depois vou ter que dar uma volta enorme e vou me atrasar! É só um pequeno desvio para me deixar em casa!
— Pois é - respondi seca. - Mas não posso entrar pelo desvio.
— Eu pago tudo! - insultou-me ela com a mesma moeda com que teria se lembrado de me agradecer.
— Eu é que pago tudo - insultei-a.
Ao saltar do táxi, assim como quem não quer nada, tive o cuidado de esquecer no banco as minhas asas dobradas. Saltei com a profunda falta de educação que me tem salvo de abismos angelicais. Livre de asas, com a grande rabanada de uma cauda invisível e com a altivez que só tenho quando pára de chover, atravessei como uma rainha os largos umbrais do Edifício Visconde de Pelotas." (conto de clarice)

quinta-feira, março 17, 2011

Niilismo, demasiado niilismo.

Na era de laptops, chips, wifi, tv, microondas, cigarro, wayfarer, celular, memória, demasiada. Não existe
solidão, tudo preenche, esfria, anestesia. Espaço vazio que diminui a sensibilidade, a agonia. Ao redor não há nada, nem ninguém. Aperndemos a ser sozinhos, fomos adestrados a não compartilhar. É puro ego quando se publica, seja qual for a natureza, mas também é o ego que não deixa publicar, que esconde, dissimula.
O futurismo, meu caro, é arte, obra feita do tédio. Melancolia de não ter lugar no espaço, por isso e pra isso sempre on-line.


(...)
never stop.